Sociologia material para o ensino médio: O que são ONGs?
Sigla muito empregada, as ONGs são um tipo de entidade cada vez mais presente no dia a dia dos brasileiros. As ações do poder público, como bem sabemos, nem sempre são suficientes e, por isso, todo engajamento da sociedade civil conta. Este é um texto introdutório que será desdobrado em diversos conteúdos sobre a temática das ONGs.
CONCEITO
DE ONG
As
organizações não governamentais (ONGs) são entidades privadas da sociedade
civil, sem fins lucrativos, cujo propósito é defender e promover uma causa
política. Essa causa pode ser virtualmente de qualquer tipo: direitos
humanos, direitos animais, direitos
indígenas, gênero,
luta contra o racismo, meio ambiente, questões urbanas, imigrantes,
entre muitos outros. Essas organizações são parte do terceiro setor,
grupo que abarca todas as entidades sem fins lucrativos (mesmo aquelas
cujo fim não seja uma causa política). São exemplos de outras entidades do
terceiro setor as associações de classe e organizações religiosas.
Segundo
Ricardo Silveira, o termo foi usado pela primeira vez em uma resolução do
Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU),
em 1950. Desde então serve para designar as iniciativas privadas sem fins
lucrativos e que não surgiram de acordos entre Estados. É bem verdade que o
nome é considerado muito genérico e há sempre muita discussão sobre o que
exatamente é ou não uma ONG.
Base
jurídica das ONGs
Segundo Ricardo
Silveira, a base jurídica mais sólida para as ONGs no Brasil
é a Lei 9.790/1999. Essa lei se refere às organizações da
sociedade civil de interesse público (OSCIPs), mas não chega a
mencionar o termo organização não governamental. O título de OSCIP pode ser
conferido, pelo Ministério
da Justiça do Brasil, a entidades privadas sem fins lucrativos (associações
e fundações privadas) que tenham pelo menos um dos objetivos
sociais previstos na lei. Dentre esses objetivos estão a
promoção da assistência social, da saúde, da educação,
do voluntariado, etc. A titulação de OSCIP tem por finalidade facilitar
parcerias e convênios com todos os níveis de governo e órgãos públicos (federal, estadual e municipal) e permite que doações realizadas
por empresas possam ser descontadas no imposto de renda. Mais recentemente,
a Lei 13.019/2014 estabeleceu as regras para parcerias entre poder público e as
chamadas organizações da sociedade civil (OSCs). Legalmente,
portanto, o termo ONG não existe no Brasil. Mesmo assim, ele é utilizado
corriqueiramente pela população, imprensa e governo. Em um segundo texto
explicaremos o porque disto.
O
que diz o Código Civil?
O
chamado terceiro setor, composto pelas entidades sem fins lucrativos, está
definido em nosso Código
Civil no 44º artigo. Há duas bases jurídicas para o que chamamos de
ONGs: associação ou fundação. A diferença entre elas está descrita entre os
artigos 44 e 69 do mesmo documento. Também trataremos mais especificamente das
suas diferenças em textos futuros.
Titulações
para ONGs
Assim
como a titulação de OSCIP, existem outras que servem como um reconhecimento do
governo sobre a importância da atividade de determinada ONG para à
coletividade.
Utilidade
pública municipal (UPM);
Utilidade
pública estadual (UPE);
Utilidade
pública federal (UPF)*;
Organização
social (OS);
Certificado
de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS).
Falaremos
sobre cada uma delas ao decorrer desta trilha.
*revogada
pela Lei no 13.019, de 31 de julho de 2014.
Confusões
de termos
Como
você já percebeu, usamos com frequência o termo ONG mesmo não sendo este o
termo correto juridicamente. Embora você tenha acabado de aprender que o termo
correto é OSC, vale lembrar que há outras nomenclaturas que também geram
confusão quando queremos nos referir às ONGs. Instituto, entidade, organização
sem fins lucrativos (OSFL), organização filantrópica, OSCIP. Alguns desses
nomes te soa familiar? Inclusive você já deve ter ouvido frases do tipo: “eu
fundei uma OSCIP”; “meu pai é presidente de um Instituto”; “a nossa entidade
atende moradores de rua”. Então é tudo a mesma coisa? Não.
Instituto
é um termo genérico e muito utilizado como nome fantasia de associações e
fundações;
Entidade
é outro termo genérico, podendo ser qualquer pessoa jurídica estabelecida para
algum fim;
OSFL
é pouco utilizado atualmente mas só reforça o fato de que ONGs devem ser sem
fins lucrativos;
Uma
organização filantrópica é portadora da titulação CEBAS;
E
sobre a OSCIP já falamos anteriormente, trata-se de uma titulação.
Fique
atento ao significado de cada termo e nos ajude a passar este conhecimento a
mais pessoas.
POR
QUE AS ONGS SURGIRAM – E POR QUE CONTINUAM A EXISTIR?
Foto:
domínio público.
As
organizações não governamentais, conforme elucida Ricardo Silveira, surgiram para suprir demandas que não
eram atendidas de modo satisfatório pelos Estados. Muitos investidores sociais doavam recursos para
governos de países subdesenvolvidos e percebiam que tais quantias não eram
revertidas em bens públicos, por incompetência, falta de lisura ou uma série de
outros motivos. Nesse cenário, as ONGs prosperaram e proliferaram como
organizações competentes e exemplares, com as quais filantropos, governos e
outras instituições podiam contar.
As
ONGs também cumprem o papel de lidar com questões que todos os governos (sejam
eles de países desenvolvidos ou em desenvolvimento) não querem ou não são
capazes de tratar. Pela relevância das atividades que desenvolvem, geralmente
complementares às do poder público, as ONGs se popularizaram e garantiram um
espaço permanente na sociedade. E não é à toa: de modo geral, as ONGs
contam com pessoas profundamente engajadas com questões socialmente
relevantes. São entidades que podem oferecer novos insumos para o trabalho
do poder público, fortalecendo a busca por soluções para desafios sociais.
É por isso que as ONGs continuam a existir e a cumprir seu papel.
Em
um próximo texto desta trilha abordaremos mais a fundo o histórico das ONGs
traçando uma linha do tempo sobre sua existência. Passaremos por diferentes
contextos sociais e governos e, ao final da leitura, você terá mais clareza
sobre como tudo começou e, inclusive, porque o termo organização não
governamental passou a ser disseminado.
REPRESENTATIVIDADE
DAS ONGS NO BRASIL
Para
você ter uma noção, em 2010, já havia 290 mil
fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil,
segundo a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong).
Dados do Mapa das
Organizações da Sociedade Civil (IPEA) mostram que em 2014 tínhamos
391.371 OSCs em atividade no país.
Trataremos
em um conteúdo específico sobre a representatividade das ONGs no Brasil,
adentrando em aspectos mais profundos sobre a área de atuação desta gama de
organizações, os impacto na economia e comparações com outros países.
COMO
AS ONGS FINANCIAM SUAS ATIVIDADES?
Como
não possuem fins lucrativos, as ONGs precisam buscar formas alternativas para
continuar em atividade. Para isso, contam com o apoio financeiro de
outras entidades privadas (do terceiro setor ou do
empresariado), de pessoas físicas (cidadãos conscientes e engajados como eu e
você) e até mesmo do governo, que pode fornecer recursos e apoio para
atividades em que ambos possam unir forças. Veja alguns exemplos de captação:
Pessoa
física: organizações como o Médicos Sem
Fronteiras e Greenpeace são referência na captação direta com
pessoa física. Outra forma comum de levantar recursos com pessoas é por meio de
campanhas como o Mac Dia Feliz;
Empresas:
boa parte das grandes empresas têm um setor específico chamado de
responsabilidade social. Trata-se de uma área especializada em promover impacto
social positivo por meio de recursos (monetários ou não) da própria organização.
Em outros casos, empresas optam por criar fundações próprias para atuar nessa
frente, como a Fundação Grupo Boticário, por exemplo. Em ambas situações
há margem para que as ONGs proponham projetos que precisam de financiamento;
Governo:
o portal de convênios SICONV é um dos caminhos utilizados por organizações
do terceiro setor para viabilizar seus projetos com recursos do governo. Outra
forma muito conhecida é por meio das leis de incentivo fiscal, como a Lei
Rouanet para cultura e o PRONON e PRONAS/PCD para a área da saúde.
Há
outras formas de levantar recursos como prestação de serviços, participação em
editais de fundações, cooperação internacional, campanhas de crowdfunding e
premiações. Também existem práticas inovadoras como a Risü, uma
solução que gera doações para ONGs por meio de compras em mais de 300 lojas
parceiras sem gerar custo adicional algum. Inclusive nós estamos por lá! Que
tal fazer uma compra nas lojas parceiras e de quebra ajudar o Politize!?
Não
podemos esquecer que recursos não envolvem apenas dinheiro. Além do
famoso voluntariado também temos uma frente de captação
chamada in kind, que basicamente foca na conquista de produtos e/ou
serviços gratuitos para organização. Por exemplo, uma organização poderia
receber computadores de um determinado fabricante ao invés de dinheiro para
algum projeto. Essa mesma organização poderia contar com os serviços de um
escritório de contabilidade sem ter que pagar por isso. Abordaremos todas essas
possibilidades com profundidade nos próximos conteúdos desta trilha!
POLÊMICAS
COM ONGS
Ao
longo dos últimos anos, várias organizações não governamentais foram acusadas
de desviar dinheiro público. Essas organizações recebiam recursos por meio de
convênios de ministérios do governo federal, como Turismo, Educação e Trabalho. No início de 2012, o governo chegou a cancelar 181 convênios com ONGs em situação irregular,
segundo a Folha de São Paulo. Esses casos demonstram que mesmo as ONGs correm
risco de se desviar de seu papel original.
Muitos
desses escândalos contribuíram no fortalecimento de uma imagem negativa das
ONGs, gerando descrença por parte da sociedade e prejudicando as milhares de
boas organizações. Nosso desafio é provar que há muito mais organizações boas
do que ruins e que em qualquer setor da sociedade encontraremos ambas
realidades. Para separar o joio do trigo, algumas dicas:
Relatório
de atividades: uma forma comum de mostrar transparência em relação ao trabalho
realizado é produzindo um relatório de atividades anual. Assim fica mais fácil de
perceber o impacto gerado pela organização em um determinado ano;
Equipe:
é muito importante verificar se a organização é transparente em relação
às pessoas
que estão por trás de suas ações;
Prova
social: há três formas que se enquadram nesta categoria e que você deve
observar: 1) depoimentos de beneficiários desta organização; 2) se a
organização tem uma rede de parceiros; 3) se há veiculações na mídia que
destacam o trabalho dela. Todos esses elementos constituem uma prova social de
que há um lastro, seja positivo ou negativo, sobre determinada organização.
Atividades
1.
Defina o conceito de ong, segundo o
texto.
2. Como
as ongs financiam suas atividades?
3. O
que diz O que diz o Código Civil sobre as ongs?
4.
O que é uma OSCIPs?
5.
As organizações não governamentais,
conforme elucida Ricardo Silveira, surgiram para suprir demandas que não
eram atendidas de modo satisfatório, por quem?
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