Sociologia material para o ensino médio: Os tipos de capital segundo o Pierre Bourdieu
Crítico dos mecanismos de reprodução das desigualdades
sociais, Pierre Bourdieu destaca
em sua obra os condicionamentos materiais e simbólicos que agem sobre nós
(sociedade e indivíduos) numa complexa relação de interdependência. Ou seja, a
posição social ou o poder que detemos na sociedade não dependem apenas do
volume de dinheiro que acumulamos ou de uma situação de prestígio que
desfrutamos por possuir escolaridade ou qualquer outra particularidade de destaque,
mas está na articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em cada
momento histórico.
A estrutura social é apresentada por Bourdieu
como um sistema hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto pelas
relações materiais e/ou econômicas (salário, renda) como pelas relações
simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos. Dessa
forma, a diferente localização dos grupos nessa estrutura social deriva da
desigual distribuição de recursos e poderes de cada um de nós.
Capital cultural
Capital cultural consiste em
ativos sociais ligados a uma pessoa, como educação, intelecto, estilo de fala e
vestimentas, etc., que são capazes de promover mobilidade social numa sociedade
estratificada. É um conceito introduzido por Bourdieu em "Cultural Reproduction and Social Reproduction" (1977).
Bourdieu propôs três categorias de capital cultural: incorporado, objetificado
e institucionalizado.
Capital cultural incorporado
É aquele ligado ao “vir a ser”, a
tornar-se, por meio de um processo laborioso de inculcação e incorporação,
detentor do capital acumulado.[12] É obtido por meio da
socialização nos parâmetros de uma determinada educação, cultura e tradição, e
não é imediatamente transmissível, mas adquirido ao longo do tempo. Definição
muito semelhante a de habitus.
Capital cultural objetivado
É composto de bens materiais que
podem ser transmitidas por ganhos econômicos mas que demonstram,
simbolicamente, o ser detentor de capital cultural. É o caso de obras de artes,
equipamentos científicos, coleções de livros.
Capital cultural institucionalizado
É o capital cultural que se
expressa por meio da detenção de qualificações acadêmicas, muitas vezes como
produto de um processo de seleção institucional.
Por recursos ou poderes, Bourdieu entende mais
especificamente o capital econômico (renda,
salários, imóveis), o capital cultural (saberes
e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), o capital social (relações sociais que podem
ser revertidas em capital, relações que podem ser capitalizadas) e por fim, mas
não por ordem de importância, o capital simbólico (o
que vulgarmente chamamos prestígio e/ou honra). Assim, a posição de privilégio
ou não-privilégio ocupada por um grupo ou indivíduo é definida de acordo com o
volume e a composição de um ou mais capitais adquiridos e ou incorporados ao
longo de suas trajetórias sociais. O conjunto desses capitais seria compreendido
a partir de um sistema de disposições de cultura (nas suas dimensões material,
simbólica e cultural, entre outras), denominado por ele habitus.
A produção do gosto
Nas décadas de 60 e 70 do século passado,
Bourdieu se envolve em uma série de pesquisas de caráter qualitativo e
quantitativo sobre a vida cultural, sobre as práticas de lazer e de consumo de
cultura entre os europeus, sobretudo, entre os franceses.
Dessas experiências de investigação Bourdieu
publica, em 1976, uma grande pesquisa intitulada Anatomia do gosto. Mais tarde, essa mesma pesquisa
passa a ser objeto do livro intitulado: A distinção – crítica social do
julgamento. Nessas duas obras, Bourdieu e uma equipe de
pesquisadores tentam explicar e discutir a variação do gosto entre os segmentos
sociais. Isto é, analisando a variedade das práticas culturais entre os grupos,
Bourdieu acaba por afirmar que o gosto cultural e os estilos de vida, ou as
maneiras de se relacionar com as práticas da cultura estão profundamente
marcadas pelas trajetórias sociais vividas por cada sujeito.
Mais especificamente Bourdieu afirma que as
práticas culturais são determinadas, em grande parte, pelas trajetórias
educativas e socializadoras dos agentes. Dito com outras palavras, Bourdieu
afirma que o gosto cultural é produto e fruto de um processo educativo,
ambientado na família e na escola e não fruto de uma sensibilidade inata dos
agentes sociais.
Capital cultural incorporado
Bourdieu põe em discussão, dessa forma, o
consenso relativo à crença de que gosto e os estilos de vida seriam uma questão
de foro íntimo. Para o autor, o gosto seria, ao contrário, o resultado de
imbricadas relações de força poderosamente alicerçadas nas instituições
transmissoras de cultura da sociedade capitalista.
Para fundamentar essa afirmação, Bourdieu
argumenta que essas instituições seriam a família e a escola; seriam
elas responsáveis pelas nossas competências culturais ou gostos culturais. A
distinção entre esses dois tipos de aprendizado, o familiar e o escolar,
refere-se a duas maneiras de adquirir bens da cultura e com eles se habituar.
Ou seja, os aprendizados efetuados nos ambientes familiares seriam
caracterizados pelo seu desprendimento e invisibilidade, garantindo a seu
portador um certo desembaraço na apreensão e apreciação cultural; por sua vez,
o aprendizado escolar sistemático seria caracterizado por ser voluntário e
consciente, garantindo a seu portador uma familiaridade tardia com a produção
cultural.
O descompasso educacional
A perspectiva crítica sobre a produção do gosto
cultural nas sociedades capitalistas tem por princípio que todas as relações
educativas e socializadoras são relações de comunicação. Isto é, a mensagem
comunicativa, mais propriamente o conjunto de regras culturais disponibilizadas
pela escola, sobretudo aquelas relativas às artes eruditas ou à cultura letrada
dependem da posse prévia de códigos de apreciação.
Consequentemente, diria Bourdieu, em uma
sociedade hierarquizada e injusta como a nossa, não são todas as famílias que
possuem a bagagem culta e letrada para se apropriar e se identificar com os
ensinamentos escolares. Alguns, os de origem social superior, terão certamente
mais facilidade do que outros, pois já adquiriram parte desses ensinamentos em
casa. Existiria uma aproximação e uma similaridade entre a cultura escolar e a
cultura dos grupos sociais dominantes, pois estes há muitas gerações acumulam
conhecimentos disponibilizados pela escola. Nesse sentido, o sistema de ensino
que trata a todos igualmente, cobrando de todos o que só alguns detêm (a
familiaridade com a cultura culta), não leva em consideração as diferenças de
base determinadas pelas desigualdades de origem social. Bourdieu detecta então
um descompasso entre a competência cultural exigida e promovida pela escola e a
competência cultural apreendida nas famílias dos segmentos mais populares.
Em síntese, para Bourdieu o sistema escolar, em
vez de oferecer acesso democrático de uma competência cultural específica para
todos, tende a reforçar as distinções de capital cultural de seu público.
Agindo dessa forma, o sistema escolar limitaria o acesso e o pleno
aproveitamento dos indivíduos pertencentes às famílias menos escolarizadas,
pois cobraria deles os que eles não têm, ou seja, um conhecimento cultural
anterior, aquele necessário para se realizar a contento o processo de
transmissão de uma cultura culta. Essa cobrança escolar foi denominada por ele
como uma violência simbólica, pois imporia o reconhecimento e a legitimidade de
uma única forma de cultura, desconsiderando e inferiorizando a cultura dos
segmentos populares.
Atividade os tipos de
capital segundo o sociólogo Pierre Bourdieu
1.
O que é a estrutura social, segundo o
Pierre Bourdieu?
2.
O que é o capital cultural, segundo o
Pierre Bourdieu?
3.
Cite os três tipos de capital cultural e
explique cada um deles.
4.
O que é o capital social, segundo o
Pierre Bourdieu?
5.
O que é o capital simbólico para o
Pierre Bourdieu?
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