Sociologia material para o ensino médio: Conceitos básicos de política, sobre a ótica do Karl Marx

 



 

Mercadoria

“A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção.”  [Marx, O Capital, Capítulo A Mercadoria, Volume I, Capítulo I]

Estado

 A concepção de Estado para Karl Marx surge a partir da propriedade privada e da divisão social do trabalho. O Estado para ele, criaria as condições necessárias para o desenvolvimento das relações capitalistas. O Estado moderno funcionaria como um comitê executivo das classes dominantes, a chamada burguesia. 

o Estado como o instrumento de opressão das camadas dominantes e como uma mera expressão das vontades destes últimos.

Sendo assim a visão sobre o Estado não há mais relevância em debater sobre a qualidade de um governo, pois indubitavelmente ele será despótico, injusto e alinhado com o interesse de controle de um grupo social dominante sobre outro.

Para Karl Marx e Friedrich Engels a burguesia desenvolveu um papel revolucionário na sociedade ganhando espaço ao tirar o comércio das mãos dos monarcas que até então eram os detentores e dominadores das relações comerciais.

A partir do momento que a burguesia ganhou poder econômico surgiram conflitos entre seus interesses e o dos monarcas que para sustentar Estado, Nobreza, e Clero, cobravam altas taxas de juros explorando assim os camponeses e os próprios burgueses.

Com isso os burgueses se atentaram que ao tomar o poder das mãos dos absolutistas poderiam assumir protagonismo social, pois galgariam a uma nova posição na qual desempenhariam papel mais ativo e controlador na Sociedade.

A partir do momento que a burguesia deixou de ser uma classe dominada assumiu instantaneamente a condição de dominadora, pois em razão do comércio, adquiriram relevância social, econômica e política e passaram a determinar os rumos das Nações.

Para Marx a burguesia operou o Capitalismo de forma totalmente destrutível para as relações entre os homens e transformou toda dignidade humana em um simples favor de troca. Nele a classe dominante explora a classe dominada, sugando suas força e pagando um valor muito abaixo do que realmente vale seu trabalho.

Aumentando o tom acusatório contra a burguesia, Marx condena a eclosão de “simulacros” do Socialismo dentro da realidade burguesa. O Socialismo Burguês, por exemplo, distingue-se por ser formado de uma classe que visa benfeitorias com fins humanitários, econômicos, filantropos, etc. A característica desses grupos é a vontade de usufruir da vida moderna confortável dos burgueses, continuando como agentes opressores, entretanto, sem enfrentar os atritos que inerentes ao desequilíbrio do Capitalismo como o choque de interesses entre eles e os proletários.

Com toda expansão burguesa-capitalista, o Estado se tornou um aliado que tinha como função a sustentação do poder burguês, sendo que este tomou conta da política, passando a articulá-la como queria. Nesse momento Marx não dissocia o Estado da Burguesia, afirmando que com o Estado vem o Capital, adiante as divisões do trabalho, e na sequência a irracionalidade de uma ordem caduca, e depois de certo ponto, o Estado e a Alienação são inseparáveis.

Segundo o Filósofo, o Capitalismo só era favorável para as classes burguesas, ao instituir privilégios restritos. E para aniquilar as iniquidades e injustiças Karl Marx propunha que os proletários do mundo se unissem e lutassem por uma só causa, pela supressão dos privilégios burgueses e por uma sociedade igualitária.

A luta não deveria ser contra uma ou outra classe de dominação, contra um ou outro poder estatal, seja ele constitucional ou legitimo. Deveria ser contra o sistema como um todo, colocando como meta a destruição estatal e por consequência a supressão das desigualdades e dos privilégios.

Para que tudo isso ocorra, o primeiro passo na teoria Marxista é o desaparecimento da divisão do trabalho, o que por consequência atenuaria os efeitos da alienação que os burgueses impunham, ao apregoar reiteradamente valores de sua classe. Marx dizia:

“No lugar da sociedade civil-burguesa antiga, com suas classes e antagonismos de classe, teremos uma associação na qual o desenvolvimento livre de cada um é a condição para o desenvolvimento livre de todos.”

 A Religião como Viabilizadora do Processo de Dominação

O Filósofo oferecia suas críticas ao apego aos valores religiosos e o uso de seus símbolos e dogmas para atingir um fim de dominação e assegurar o formato estamental da sociedade. Sugeria que a religião era uma expressiva base de sustentação da lógica de privilégios de uma realidade pautada pela desigualdade e pela injustiça social.



 

Fetichismo da mercadoria 

De acordo com a crítica de Karl Marx no âmbito da economia política, o fetichismo da mercadoria surge como um fenômeno social e psicológico onde as mercadorias aparentam ter vontade independente de seus produtores. Em O Capital (volume 1), Marx explica o fetichismo da mercadoria:[1]

Fetichismo da mercadoria é a percepção das relações sociais envolvidas na produção, não como relações entre as pessoas, mas como as relações econômicas entre o dinheiro e as commodities negociadas no mercado. Sendo assim, o fetichismo da mercadoria transforma os aspectos subjetivos (abstração de valor econômico) em objetivos (coisas reais que as pessoas acreditam ter valor intrínseco).

"O caráter misterioso da forma mercadoria reside em que projeta diante dos homens o caráter social do trabalho destes como se fosse o caráter material dos próprios produtos do seu trabalho, um dom natural destes objetos, como se a relação social que existe entre os produtores e o trabalho coletivo da sociedade fosse uma relação social estabelecida entre os mesmos objetos, à margem dos seus produtores. (…) O que aparece aos olhos dos homens como sendo uma relação fantasmagórica de uma relação entre objetos materiais não é mais do que uma relação social estabelecida entre os mesmos homens. (…) As relações sociais que se estabelecem entre seus trabalhos aparecem (…) não como relações diretamente sociais das pessoas em seus trabalhos, mas como relações materiais entre pessoas e relações sociais entre coisas."

[Marx, O Capital, Capítulo A Mercadoria, Volume I, Capítulo I]

Consciência de classe, para Marx e Engels, é a percepção do próprio papel no sistema produtivo, seja como produtor de riqueza, seja como proprietário dos meios de gerar riqueza. Essa percepção é construída ao longo do tempo por meio da luta de classes e envolve reconhecer a própria condição econômica, identificar outros indivíduos na mesma situação, desenvolver uma gama de interesses em comum e organizar-se politicamente para viabilizar as demandas desse grupo. Para esses autores, assim como a burguesia havia desarticulado e substituído a sociedade feudal, o proletariado, por meio da luta de classes, desarticularia e substituiria a sociedade burguesa.

As classes sociais, conforme a teoria marxista, são caracterizadas pela propriedade e controle dos meios de produção de riqueza ou pela exclusão dessa posse e controle. A classe burguesa é composta pelos capitalistas e grandes proprietários de terra. A classe proletária é composta pelos trabalhadores assalariados. Estes, embora sejam os produtores da riqueza, não recebem um salário condizente, além disso, vivem em condições precárias de moradia e trabalho, especialmente no contexto imediato pós-Revolução Industrial.

Leia também: Marxismo – a doutrina política elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels

Classes sociais

Marx e Engels observaram em diferentes períodos da História e em diversos lugares no mundo sociedades com um ordenamento social em que os grupos eram posicionados de maneira gradativa. Esse arranjo pode ter múltiplas estruturações conforme a escala de valores de cada povo. Nas sociedades capitalistas, essas dinâmicas foram cristalizadas em dois grupos específicos: a burguesia, composta pelos donos dos meios de produção, e o proletariado, composto pelos operários que produzem a riqueza desse sistema socioeconômico, mas são excluídos de sua distribuição, o que gera grande desigualdade e tensiona o tecido social, produzindo conflitos. Embora distinções e hierarquizações entre grupos sejam comuns em diversas sociedades, Marx e Engels admitiam na classe uma categoria específica das sociedades capitalistas.

Para Marx, a base da divisão de classes na sociedade burguesa, que também fundamenta as distinções sociais das sociedades pré-capitalistas, está na relação entre os proprietários dos meios de produção e os produtores diretos de riqueza. Assim, existem três grandes classes: proprietários fundiários, capitalistas e trabalhadores assalariados. Os dois primeiros pertencem ao grupo de proprietários, e o último, ao grupo de produtores de riqueza.

Mesmo reconhecendo que houvesse outros grupos, em termos analíticos, esses três estavam centralmente ligados ao processo produtivo, por isso obtiveram maior atenção na teoria marxista. Marx afirmou que:

“Os proprietários de simples força de trabalho, os proprietários de capital e os proprietários de terras, cujas respectivas fontes de receitas são o salário, o lucro e a renda do solo, ou seja, os operários assalariados, os capitalistas e os latifundiários, formam as três grandes classes da sociedade moderna, baseada no regime capitalista de produção”. |1|

Em seus estudos empreendidos no século XIX, Marx realizou uma divisão conceitual em duas classes, embora reconhecesse haver outras. A classe que dispunha das condições de produção é a classe dominante, composta por um grupo minoritário que detinha os ativos para produção de riqueza (industrial, fundiária, comercial e financeira) e de influência sobre o Estado para proteger suas propriedades e disseminar a ideologia produzida por essa classe para legitimar sua dominação sobre a classe dominada.

classe proletária, por sua vez, embora composta por um grupo majoritário que vende sua força de trabalho em troca de remuneração, não dispunha da mesma coesão de sua antagonista. Ainda que haja uma situação comum de exploração que gere demandas comuns, não há uma identidade de interesses que resulte em um elo, uma organização e ação em prol de realizar esses interesses. Além disso, a própria estrutura do trabalho assalariado e seu ensejo em estimular a concorrência individual poderiam enfraquecer essa ligação, o que tornaria importante, além da consciência de classe, a solidariedade de classe.



Trabalho 

“Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. Não se trata aqui das formas instintivas, animais, de trabalho. (…) Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um ato fortuito. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é mister a vontade adequada que se manifesta através da atenção durante todo o curso do trabalho. E isto é tanto mais necessário quanto menos se sinta o trabalhador atraído pelo conteúdo e pelo método de execução de sua tarefa, que lhe oferece por isso menos possibilidade de fruir da aplicação das suas próprias forças físicas e espirituais.” [Marx, O Capital, Capítulo Processo de Trabalho e Processo de Produção de Mais Valia, Volume I, Capítulo VII]

 

Observação: A definição do conceito trabalho alienado foi detidamente explorada Manuscritos Econômico-Filosóficos, publicado por Karl Marx em 1844. Este conceito pode ser explicado a partir da charge Frank e Ernest – Thaves [12] e do trecho abaixo:

 

“(…) o trabalho é exterior ao trabalhador, quer dizer, não pertence à sua natureza; portanto, ele não se afirma no trabalho, mas nega-se a si mesmo, não se sente bem, mas infeliz, não desenvolve livremente as energias físicas e mentais, mas esgota-se fisicamente e arruína o espírito. Por conseguinte, o trabalhador só se sente em si fora do trabalho, enquanto no trabalho se sente fora de si. Assim, o seu trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado. Não constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades. O seu caráter estranho ressalta claramente do fato de se fugir do trabalho como da peste, logo que não exista nenhuma compulsão física ou de qualquer outro tipo. O trabalho externo, o trabalho em que o homem se aliena, é um trabalho de sacrifício de si mesmo, de mortificação. Finalmente, a exterioridade do trabalho para o trabalhador transparece no fato de que ele não é o seu trabalho, mas o de outro, no fato de que não lhe pertence, de que no trabalho ele não pertence a si mesmo, mas a outro. […] Pertence a outro e é a perda de si mesmo.”   [MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1964, p. 162]

 

Mais valia

“O produto, de propriedade do capitalista, é um valor-de-uso, fios, calçados etc. Mas, embora calçados sejam úteis à marcha da sociedade e nosso capitalista seja um decidido progressista, não fabrica sapatos por paixão aos sapatos. Na produção de mercadorias, nosso capitalista não é movido por puro amor aos valores-de-uso. Produz valores-de-uso apenas por serem e enquanto forem substrato material, detentores de valor-de-troca. Tem dois objetivos. Primeiro, quer produzir um valor-de-uso, que tenha um valor-de-troca, um artigo destinado à venda, uma mercadoria. E segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor conjunto das mercadorias necessárias para produzi-la, isto é, a soma dos valores dos meios de produção e força de trabalho, pelos quais antecipou seu bom dinheiro no mercado. Além de um valor-de-uso quer produzir mercadoria, além de valor-de-uso, valor, e não só valor, mas também valor excedente (mais valia).”

[Marx, O Capital, Capítulo Processo de Trabalho e Processo de Produção de Mais Valia, Volume I, Capítulo VII]

Atividades

1.      Explique o conceito de Mercadoria

2.      Explique o conceito de Estado para Karl Marx

3.      Explique o conceito Segundo a teoria marxista, o que são os meios de produção?

4.       Explique o conceito de Fetichismo da mercadoria 

5.      O que é Consciência de classe, para Marx e Engels?

 



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