Trabalho de Base dos Movimentos Sociais
“Fé na vida, fé na gente, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”. (Gonzaguinha)
Trabalho de base não é receita ou mágica. É um jeito de fazer política onde o militante coloca sua alma. É uma paixão carregada de indignação contra qualquer injustiça, e cheia de ternura por todos que se dispõe a construir um mundo sem a marca da dominação. Essa convicção nasce do coração e da razão, torna-se força contagiante, capaz de vencer a fúria e a sedução da opressão e de comprometer-se com a transformação das pessoas e da sociedade.
Essa prática multiplicadora pode ser realizada nas favelas, nas ocupações de terra, nas fábricas, nas igrejas, nas instituições do Estado e nos espaços internacionais. Ela se sustenta quando mantém os pés no chão e a cabeça nos sonhos. Consegue vitórias quando articula as lutas econômicas com as diferentes lutas políticas e sociais. E perdura, em qualquer conjuntura, quando combina ações de rebeldia com as disputas na legalidade.
1.
A finalidade do trabalho de base é:
a)
Anunciar sempre que o ideal da humanidade é a prosperidade e a
convivência solidária. E combater a ganância, a competição, a
dominação. Quanto maior a opressão e a crise, maior a razão para
propagar o sonho da sociedade sem classes.
b)
Despertar a dignidade das pessoas e a confiança nos seus valores e
no seu potencial. A pessoa se torna feliz e perigosa (para as
elites), quando começa a andar com os próprios pés. Em geral, quem
está no poder, prefere gente obediente e conformada, porque é fácil
manipular uma população domesticada e dependente.
c)
Canalizar a rebeldia popular na luta contra a injustiça e na
construção de uma sociedade de homens e mulheres novos, onde a
produção, distribuição e consumo, sejam orientados pela lógica
da solidariedade.
d)
Transformar a realidade e conseguir vitórias em todos os campos e em
todas as dimensões, que satisfaçam os justos anseios da população.
2.
A força do trabalho de base está:
a)
Na sua sustentação de base: o trabalho de base tem
que ter raízes plantadas na alma da população que é a base da
sociedade. Por causa desse alicerce, ele sempre renasce e se
reproduz. Não é um movimento para os trabalhadores. É dos
trabalhadores. O povo deve se sentir parte dessa construção e
companheiro da mesma caminhada. Para isso, o trabalho de base se
organiza lá onde o povo vive e trabalha. Para combater dentro de
cada um o vício da dependência, é preciso que cada pessoa, desde o
início, contribua com disposição, idéias e sustentação
financeira das atividades.
b)
Na crença do povo: a razão do trabalho de base é
ajudar o povo a entender e se comprometer com a vida feliz e
solidária. Mas sabe que esse povo já luta porque precisa
sobreviver. O povo está sempre reagindo contra a exploração e a
dominação, mesmo quando não fala a linguagem dos militantes ou
entra em caminhos que são armadilhas. A história tem mostrado que,
apesar de toda a miséria e de toda a contradição, o povo é a
sementeira permanente de novas formas de luta e de novos militantes.
c)
Na clareza de que a organização popular, sendo uma parte, é
parte para incluir todo o povo. Os dirigentes não são
guias geniais, mas lideranças indispensáveis que ajudam o povo a
entender a realidade e organizar os esforços, no rumo da
transformação. No processo, o povo vai assumindo-se como sujeito de
sua história. É como diz o poeta “sentindo na vida que pode, o
pobre entende o que vale; depois que a canga sacode, não há patrão
que o cale”.
d)
Na coerência entre rumo e caminho: no trabalho de
base não tem essa de fazer a cabeça. A pessoa deve abraçar a
causa, porque foi convencida de que ela é justa. Então, o jeito de
tratar as pessoas, deve estar de acordo com a finalidade que queremos
atingir. Fica difícil falar de liberdade se, na prática diária, as
pessoas mantém um comportamento autoritário e antidemocrático. É
verdade que, quem não sabe onde quer chegar, não chega lá nunca”.
Mas, é igualmente verdade, que o fim é o caminho que a gente faz,
para chegar no objetivo. Quer dizer, o método que se pratica, deve
ser coerente com os objetivos que se pregam.
e)
Na metodologia multiplicadora: cada militante que se
convence, assume o compromisso de mobilizar um time de novos
companheiros. Estes, por sua vez, vão repartir os esclarecimentos e
as experiências com outros colegas que vivem em muitos espaços de
luta, de vida, e de trabalho. Assim se vai tecendo a rede de
resistência e de solidariedade, para a conquista de vitórias.
f)
No planejamento das ações: ninguém entra de peito
aberto numa guerra. É indispensável traçar um caminho, capaz de
levar à vitória. O planejamento enfrenta o medo de mexer no
comodismo das pessoas e na indisciplina da prática espontaneísta.
Na luta popular, como no futebol, o objetivo não é chutar a bola. É
preciso avançar e se defender organizadamente, na hora certa e com
as pessoas certas. Por isso, marcam-se pontos e prazos de chegada;
faz-se uma caprichada preparação dos militantes; escolhem-se
responsáveis pelas atividades; realiza-se um balanço dos
resultados, em cada etapa da luta.
g)
No amor pelo povo e pela vida: o trabalho de base é
mais que um trabalho profissional, feito por pessoas competentes. Ele
tem um segredo que anima a esperança dos militantes, chegando à
doação da própria vida. O valor da vida, a dignidade das pessoas,
a rebeldia para a liberdade e a fraternidade universal, formam a base
dessa paixão que invade a alma dos militantes e dá sentido à sua
disposição e dedicação. No concreto, essa convicção se traduz
no respeito ao povo, no carinho aos iniciantes, no cumprimento dos
acertos coletivos, na capacidade de tomar iniciativas, na coragem de
encarar os desafios, nos gestos de indignação, entusiasmo e
celebração. O amor pelo povo e pela vida se expressa, de maneira
plena, nas manifestações individuais e coletivas do companheirismo.
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