Utopia?
Que significa, afinal, esta palavra tão banalizada, tão esvaziada
de sentido? O que é que a utopia
tem a ver com a nossa história, com o nosso mundo? Qual a
importância da utopia — do sentimento, do impulso utópico — em
nossa vidas? Para responder a essas perguntas, de uma forma que
combina política, filosofia e poesia: Eduardo Galeano — uruguaio
nascido em Montevidéu, em 1940, Galeano é jornalista e escritor,
autor de mais de quarenta livros, muitos dos quais traduzidos para
vários idiomas.
EDUARDO
GALEANO, O DIREITO AO DELÍRIO
Que tal começarmos a exercer
O direito de sonhar?
Que tal se delirarmos um pouquinho?
No próximo milênio, o ar estará limpo
de todo veneno
O televisor deixará de ser
o membro mais importante da família
As pessoas trabalharão para viver,
em vez de viver para trabalhar.
Os economistas não chamarão
nível de vida o nível de consumo,
nem chamarão qualidade de vida
a quantidade de coisas.
Ninguém será considerado herói
ou tolo só porque faz aquilo que
acredita ser justo, em vez de fazer
aquilo que mais lhe convém.
A comida não será uma mercadoria,
nem a comunicação um negócio,
porque comida e comunicação
são direitos humanos.
A educação não será um privilégio
apenas de quem possa pagá-la.
A polícia não será a maldição daqueles
que não podem comprá-la.
A justiça e a liberdade,
irmãs siamesas
condenadas a viverem separadas,
voltarão a juntar-se, bem unidas
ombro com ombro.E os desertos do mundo e os desertos
da alma serão reflorestados.
Eduardo Hughes Galeano
Montevidéu, Uruguai – 03 Setembro 1940
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