A sociologia auxilia o grêmio estudantil da escola estadual João Tibúrcio no congresso científico com o tema: a história da loucura segundo o Filósofo e Sociólogo Michel Foucault.






O congresso científico em Goianinha / RN ocorreu nos dias 30 e 31 de agosto.
O grêmio estudantil apresentou a história da loucura para os visitantes por meio de peça teatral que discorreu o seguinte roteiro: No livro a história da loucura o Filósofo e Sociólogo Michel Foucault, faz um apanhado sócio-histórico de como a loucura era vista e tratada ao longo dos séculos.
Detêm o poder quem detêm o saber.
As duas dimensões da razão a trágica e a crítica.
Trágica: O louco tem um saber
Crítica: Os loucos não detêm a razão e precisa ser internado, diagnosticado, medicado, confinado.
Cada época tem uma visão do que é a loucura.
Segundo Foucault: A loucura não é um dado biológico exatamente, não é um dado natural exatamente, a loucura é um fato cultural se em cada época se tem uma visão do que é o homem normal e do que é o homem louco, mediante o seu conhecimento e mediante o seu contexto social, político e econômico, essas questões vai definir o que se entende por normal.
Na antiguidade: As doenças eram tratadas como castigos dvino (lepra, loucura era tidos como possessão diabólica) são afastadas e colocadas a margem da sociedade.
Na renascença havia nau dos loucos, ela transportava tipos sociais que embarcavam em uma grande viagem simbólica em busca de fortuna e da revelação dos seus destinos e verdades.
Esses barcos faziam parte do cotidiano dos loucos, que eram expulsos das cidades e transportados para territórios distantes. Foucault vê nessa circulação dos loucos mais do que uma simples utilidade social, visando a segurança dos cidadãos e evitando que os loucos ficassem vagando dentro da cidade. Todo esse desejo de embarcar os loucos em um navio simbolizava uma inquietude em relação a loucura no final da idade média. A partir do século XV, ela passa a assombrar a imaginação do homem ocidental e a exercer atração e fascínio sobre ele.
A relação entre o internamento e o aparecimento de uma nova reação à miséria produz, no decorrer do século XVI, uma nova figura do pobre, bem estranha à Idade Média. (a loucura desde devido alguns textos bíblicos era também tratada como uma possessão demoníaca o que ainda acontece no mundo moderno). A miséria não possui mais a positividade mística que estava presente na Idade Média, mas é encerrada em uma culpabilidade do indivíduo por ser louco.
É a partir da metade do século XVII que a ligação entre a loucura e o internamento ocorrerá. O internamento do século XVII não é um estabelecimento médico, mas uma estrutura semijurídica que, além dos tribunais, decide, julga e executa. Na organização das casas de internamento, portanto, não está presente nenhuma idéia ou liderança médica. A história, nesse sentido, serve para diferenciar o passado do presente e, a partir dessa constatação, produzir novas possibilidades para mudar a nossa situação presente. Agora, num mundo no qual os Estados absolutistas e pós revolução francesa, nasce os estados burguês, nasce o capitalismo, substituem a Igreja nas tarefas de assistência, a miséria se tornará um obstáculo contra a boa marcha do Estado, passando de uma experiência religiosa que a santifica para uma concepção moral que a condena. (Se o indivíduo não produz não importa se é louco ele é excluído).
 Dessa forma, se o louco era, na Idade Média, considerado uma personagem sagrada era porque, para a caridade medieval, ele participava dos obscuros poderes da miséria. A partir do século XVII, a miséria é encarada apenas em seu horizonte moral e, assim, se antes o louco era acolhido pela sociedade, agora ele será excluído, pois ele perturba a ordem do espaço social. (Se o indivíduo não produz não importa se é louco ele é excluído).
O século XIX, então, conseguiu unir os conceitos da teoria médica e o espaço do internamento e foi aí que nasceu essa relação, (O médico tem o poder, este diz quem é e quem não é louco) posteriormente dada como natural, mas que era totalmente estranha ao Classicismo, entre medicina e internamento e que possibilitou, assim, o nascimento da psiquiatria positiva e do asilo do século XIX.
Classicismo (A chamada Era Clássica compreende os fatores socioeconômicos que marcaram os séculos XVI, XVII e XVIII. Essa fase retoma os valores da Antiguidade Clássica e, por isso, recebe a denominação citada.
O período histórico da Era Clássica envolve a queda do feudalismo, a expansão marítima e o desenvolvimento do capitalismo. Esse período perdura até que uma nova configuração política, econômica e social se estabeleça com a chegada das Revoluções Industrial e Francesa
). inventou o internamento, de forma semelhante como a Idade Média havia inventado a segregação dos leprosos. ( Na idade média os loucos eram confinados com outros com diversos tipos de doenças como os leprosos)
A psiquiatria positivista (ciência), para Foucault, não libertou os loucos da confusão da era clássica que misturava desatino e loucura e nem a transformou em “humana”(procurar compreender e auxiliar). O que ocorreu foi, ao longo do século XVIII, uma transformação na consciência da loucura. A psiquiatria positivista não representou uma evolução no quadro de um movimento humanitário que se aproximava aos poucos da realidade humana do louco, como também não foi o resultado de uma necessidade científica que tornava a loucura mais fiel àquilo que poderia dizer de si mesma. É no próprio internamento que essa transformação se dá e é a ele que se deve prestar atenção para entendermos essa nova consciência da loucura que acaba de emergir. A crítica política do internamento, no século XVIII, não funcionou no sentido de uma libertação da loucura, permitindo aos alienados uma atenção mais filantrópica, mas uniu ainda mais a loucura ao internamento, como Foucault defende na seguinte passagem:
O fato de haver tomado suas distâncias, de ter-se tornado enfim uma forma delimitável do mundo perturbado do desatino, não libertou a loucura; entre ela e o internamento estabeleceu-se uma profunda ligação, um elo quase essencial (Foucault, 1997, 399).
A loucura, porém, não está somente ligada às assombrações e aos mistérios do mundo, mas ao próprio homem, às suas fraquezas, às suas ilusões e a seus sonhos, representando um sutil relacionamento que o homem mantém consigo mesmo. Aqui, portanto, a loucura não diz respeito à verdade do mundo, mas ao homem e à verdade que ele distingue de si mesmo.
Assim, aquele vazio deixado pelos leprosos foi ocupado pelos “internos”. Esse aprisionamento inventado pelo classicismo é complexo e possui significações políticas, sociais, religiosas, econômicas e morais.  (Limpeza social).
Foi necessária a formação de uma nova sensibilidade social para isolar a categoria da loucura e destiná-la ao internamento. Essa segregação da loucura relaciona-se com as seguintes questões: uma nova sensibilidade à miséria e aos deveres da assistência, uma nova forma de reagir diante dos problemas econômicos do desemprego e da ociosidade, uma nova ética do trabalho e o sonho de uma cidade onde a obrigação moral se uniria à lei civil, sob as formas autoritárias da coação.(Foucault, 1997: 565). Serão, assim, esses temas que darão o sentido do modo pelo qual a loucura é percebida pela era clássica.
O internamento, então, antes de ter o sentido médico que lhe atribuímos, foi exigido por razões bem diversas da preocupação com a cura. No lugar onde muitos reconhecem os signos de uma benevolência para com a doença, Foucault percebe apenas uma preocupação com o trabalho, ou melhor, a condenação da ociosidade.
Dessa maneira, o desempregado não será mais simplesmente excluído, mas detido, já que entre ele e a sociedade estabelece-se um sistema de obrigações: enquanto ele tem de ser alimentado, ao mesmo tempo ele também deve aceitar a coação física e moral do internamento.
Na Europa, assim, ele é uma das respostas dadas pelo século XVII a uma crise econômica que envolve principalmente o desemprego. Se nos tempos de crise o internamento servia para reabsorver os ociosos e proteger a sociedade contra as revoltas, fora dos períodos de crise ele servia para fornecer mão-de-obra barata. (Agora, não importa se é louco é preciso se enquadra e produzir para o capital). Essa noção de internamento está relacionada diretamente a uma dada concepção de trabalho, que é visto sempre como solução geral para todas as formas de miséria.
É desse modo que os loucos, ociosos por princípio, terão seu lugar ao lado dos pobres e também serão submetidos às regras do trabalho obrigatório, com algumas distinções importantes, pois os loucos eram incapazes para o trabalho e para seguir os ritmos da vida coletiva. É nessa época que eles são internados, misturando-se a toda uma outra população.  (Vários tipos de doentes e doenças no mesmo espaço de internamento, os que não podem produzir). O que os unia era um aspecto: a condenação ética da ociosidade.
Mas se o internamento liga-se diretamente com as exigências do trabalho, isso não quer dizer que essa relação é definida unicamente pelas condições da economia. Longe disso, toda uma percepção moral acompanha essa obrigação do trabalho, servindo sempre como um exercício ético de uma punição moral.
Essa história da loucura contada por Foucault não é gloriosa, não se relaciona a conquistas do progresso e nem a começos puros e fundadores de uma moral que encontrou finalmente a sua forma superior, mas liga-se aos começos baixos, indecorosos e sangrentos que nascem de batalhas incessantes nas quais, um dos componentes, através de uma força, de uma dominação, de um ato de violência, vence e apaga os sentidos que o componente derrotado possuía. Foucault afirma:
O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que as tinham imposto (Foucault, 1978: 25).

Neste trecho Foucault, se refere às mudanças políticas, econômicas e sociais como a mudança da sociedade feudal para a capitalista e com isso a lógica em relação ao louco se modifica das relações espirituais da nau dos loucos do internamento com os leprosos a momentos de trabalho forçado e a volta ao internamento com outros grupos sociais até a instituição da psicologia da psiquiatria e da medicalização.
Mas essa batalha possui apenas um vencedor provisório, já que o internamento, pelo menos no sentido que ele adquiriu na era clássica, não demorará a ser contestado e reapropriado e, enfim, a ser levado a sua derrota.
Foucault, portanto, problematiza a idéia de confusão que é atribuída à percepção clássica da loucura e a noção de que a ciência positiva do final do século XVIII liberta o louco desse confinamento que interna, no mesmo local, o enfermo, o libertino, a prostituta, o imbecil e o insano, sem indicar nenhuma diferença entre eles.
Se ao final do século XVIII, e principalmente a partir do século XIX essa confusão entre criminosos e loucos provocará espantos, temos que perceber que a era clássica tratava-os de forma uniforme. Mas essa indistinção não deve ser entendida como uma ignorância, mas em sua positividade e em sua própria racionalidade.
É por volta do começo do século XVIII que nasce uma nova reflexão sobre a doença que é animada por relações entre a doença e a vegetação. É nessas novas normas médicas que a loucura se integra e o espaço dessa classificação se abre, sem problemas, para a análise da loucura. Essa natureza hierarquizada feita pelos classificadores sobre a loucura, assim, não abalou as suas significações mágicas e extramédicas. No entanto, esse pensamento médico produz uma mudança de extrema importância, pois pela primeira vez aparece um diálogo de cumplicidade entre o médico e o doente. E a partir do desenvolvimento, ao longo do século XVIII, desse conjunto médico-doente, ele passará a apresentar-se como o elemento constituinte do mundo da loucura.
Será somente com o tratamento e o estudo da cura das doenças nervosas que a medicina se tornará em uma técnica privilegiada e que, enfim, estabelecerá uma ligação com a loucura, tão recusada pelo domínio do internamento. Serão com essas curas que nascerá a possibilidade de uma psiquiatria da observação, de um internamento de aspecto hospitalar e do diálogo do louco com o médico.
Essa distinção se tornou possível somente quando, no século XIX, a loucura e a sua cura foram introduzidas no jogo da culpabilidade. Essa diferenciação entre o físico e o moral apareceu somente quando a problemática da loucura se deslocou para uma interrogação do sujeito responsável.
A psicologia, assim, é inteiramente organizada ao redor da punição.
É, então, através de todo um saber fantástico, e não no rigor do pensamento médico, que o desatino enfrenta a doença. Foram esses temas fantásticos, no entanto, os primeiros agentes que possibilitaram a síntese entre o mundo do desatino e o universo médico. O médico, nesse contexto, não foi solicitado pelo internamento para fazer a divisão entre o mal e a doença, agindo como um árbitro, mas para proteger as pessoas, para ser o guardião desse perigo que os muros do internamento transpiravam.
O interesse dos médicos pelo internamento não se deu devido a uma generosidade por um local onde se castigavam indiferentemente as culpas. A origem da associação feita entre a medicina e o internamento não expressa uma neutralidade benevolente, lembrando que “O começo histórico é baixo”.(Foucault, 1978: 18). Essa ligação não ocorreu devido ao progresso alcançado pelo estatuto médico em direção à aquisição do conhecimento da loucura, mas foi possível somente através de um medo, de todo um simbolismo do Impuro, que animavam os contágios morais e físicos. É por essa concepção do Impuro e não por um aperfeiçoamento do conhecimento, que o desatino foi confrontado com o pensamento médico e isolado da loucura. Esse novo medo do século XVIII faz emergir, portanto, uma nova loucura, questionando toda a racionalidade que o internamento possuía na era clássica. Se o número dos loucos dentro dos antigos asilos diminui, foi exatamente porque foram criadas, em meados do século XVIII, casas destinadas a receber exclusivamente os insensatos.
Se os novos hospitais não são muito diferentes, em sua estrutura, dos antigos e as condições jurídicas do internamento não mudaram, bem como tais hospitais novos não dão um lugar melhor para a medicina, o fundamental é que esse movimento isola asilos especialmente destinados aos loucos. A loucura ganha um sentido próprio e específico, tornando-se autônoma do desatino, com o qual ela estava confusamente misturada.
Ocorre toda uma reabilitação moral dos pobres em um contexto no qual a indigência torna-se o elemento indispensável ao Estado. Assim, há uma reintegração econômica e moral desse personagem, já que na economia mercantilista ele não possuía lugar, pois não era produtor nem consumidor. O seu único destino só poderia ser o exílio da sociedade através do internamento.
Mas com a indústria que acaba de nascer ele volta a fazer parte da nação. Por isso o internamento é criticado, exatamente porque ele produzia um grave erro econômico quando acreditava que se acabaria com a miséria, colocando a população pobre fora do circuito de produção e mantendo-a pela caridade. Essa medida, segundo os críticos do internamento, suprimia uma parte da população desse circuito, limitando a produção de riquezas. (é preciso sempre produzir para o capital).
Deve-se, ao contrário, recolocar toda essa população no circuito da produção e utilizá-la como mão-de-obra para que as nações alcancem o máximo de riquezas. Dentro dessa concepção, as formas clássicas da assistência são uma causa de empobrecimento e um obstáculo à riqueza produtiva. A assistência aos pobres, assim, deve assumir um novo sentido. Não se deve mais internar a população pobre, mas deixá-la na liberdade do espaço social, já que ela será absorvida pela produção por se uma mão-de-obra barata. A pobreza deve ser libertada do internamento e colocada à disposição da sociedade. 
Se a prática do internamento é reduzida cada vez mais ao âmbito das faltas morais, dos conflitos familiares, da libertinagem, ela permanece ativa exclusivamente para os loucos. Com a vitória desse último, a loucura ganha um estatuto público e o espaço do confinamento é criado para garantir a segurança da sociedade contra os seus perigos.
Nesse momento, explicita-se a proveniência da loucura produzida pela psicologia do século XIX: ela não surgiu da humanização da justiça e de suas práticas, mas de uma exigência moral e de uma estatização dos costumes. Essa psicologia, portanto, chamada de individual, provém de uma reorganização da consciência social.
O homem detém em seu interior a sua própria verdade. O louco também é detentor da sua verdade, mas essa verdade está oculta e, como ele não consegue alcançá-la, nem decifrá-la, então ele clama desesperadamente para que ela seja, enfim, revelada. Quem atenderá a esse chamado? Está construído o campo que possibilita à psicologia tratar o louco e internálo em seus confinamentos.
Bibliografia 
FOUCAULT, Michel. A História da Loucura na Idade Clássica. 1997. São Paulo, Perspectiva. __________. Nietzsche, a Genealogia e a História. In: Microfísica do Poder. 1978. Rio de Janeiro, Graal __________. Arqueologia do Saber. 1986. Rio de Janeiro, Forense Universitária.

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