Violência Contra Idoso Reeducar Para Evitar


Paulo Luiz Silva de Lima, Professor Na SEEC / RN
Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (UFRN)
pauloluizufrn@yahoo.com.br                                                            









O sociólogo alemão Nobert Elias, em seu livro A solidão dos moribundos seguido de envelhecer e morrer, propõe várias reflexões que permeiam a questão do idoso e da solidão, este coloca que "Seria falso sugerir que os problemas específicos do estágio da civilização na relação dos saudáveis com os moribundos, dos vivos com os mortos, são um dado isolado. O que surge aqui é um problema parcial, um aspecto de um problema geral da civilização em seu estágio presente (p.32)". Elias aponta, com bastante propriedade ao longo dessa obra, que faz se mister entender a questão central do isolamento dos moribundos a partir da compreensão da mudança que acompanha os distintos estágios alcançados pelo desenvolvimento da humanidade.
            Assim, o problema da morte e do envelhecimento - e em consequência, o problema do abandono e exclusão dos velhos - somente podem ser compreendidos a partir da noção de que a experiência da morte varia de uma sociedade para outra e que, portanto, tal experiência foi/é apreendida não sendo, pois, algo natural e/ou universal. Não é exatamente o fato biológico de morrer que varia uma vez que essa experiência é um dado inevitável da vida biológica, experiência corriqueira em todas as espécies vivas e em todos os momentos do processo civilizatório. O que varia é a consciência da morte, a qual é possível somente para os seres humanos. É essa consciência que se transforma no curso do desenvolvimento social.
            O sociólogo alemão afirma que a problemática em questão não é só a morte, mas, principalmente, o significado de partida antecipada que assume o envelhecimento nas sociedades industrializadas. De acordo com o autor de A Solidão dos Moribundos, a maneira mais antiga dos humanos enfrentarem o fim da vida é evitando a idéia da morte, afastando e reprimindo tal pensamento ou incorporando a fé inabalável na imortalidade. Sob este ponto de vista, o velho, o moribundo representa, uma clara evidência da finitude da vida, evento que os seres humanos modernos parecem não aceitar. O medo de morrer, o pavor do fim da vida é o sentimento que, fragilizando as pessoas, faz que com se estabeleça o afastamento dos velhos e moribundos separando as pessoas que envelhecem das outras.
Elias afirma que a exclusão dos moribundos ocorre com maior incidência nas sociedades mais avançadas porque nessas sociedades existe um espaço de identificação social maior do que em outros tempos históricos. Isto quer dizer que somos, atualmente, muito mais sensíveis em relação ao sofrimento e ao espetáculo da morte do que os homens e mulheres que viveram na Antiguidade e na Idade Média. "Se compararmos aos da Antiguidade, nossa identificação com outras pessoas e nosso compartilhamento de seus sofrimentos e morte aumentaram (p.9)". Essa identificação acaba por instalar, nas pessoas, um sentimento de desconforto e constrangimento diante dos que envelhecem e morrem e, finalmente, provocar o rompimento dos laços afetivos do velho com as pessoas com as quais ele se relacionou, às vezes, por toda a vida.
           
A terceira Idade e a Exclusão Social
Pensando nos velhos e moribundos, isso significa que, atualmente, eles também são empurrados para os bastidores e excluídos do convívio social. Os cuidados e a proteção dos velhos, antes atribuição da família e círculo de amigos e vizinhos, foi sendo transferido para a esfera estatal e, cada vez mais, pautado pelo conhecimento científico. O convívio com parentes, amigos e vizinhos neste contexto pode ser, inclusive, proibido ou dificultado por interferirem no trabalho dos profissionais da saúde. Nesse processo, o velho é isolado do contato social com pessoas com as quais, às vezes, conviveu por grande parte de sua vida. Assim, a rede de atendimento institucional aos idosos, sustentando-se na possibilidade de retardamento da morte biológica, afasta familiares e parentes e provoca uma espécie de morte social do velho.
O que Elias nos instiga a pensar é que a aversão dos adultos contemporâneos a tudo aquilo que lembre a ideia da morte é uma característica da homogeneidade do padrão dominante do atual estágio da civilização. Relembra nossos medos de infância e de como a morte aparece em associação com o assassinato e que as fantasias e ritos individuais e coletivos em torno da morte são, em sua grande maioria, assustadores. Como consequência muitas pessoas, especialmente ao envelheceram, vivem secreta ou abertamente em constante terror da morte. A angustia, a depressão e o sofrimento causados por essas fantasias e pelo medo da morrer, podem ser tão intenso, as fantasias podem ser tão reais quanto à dor física de um corpo em deterioração.
            Encobrir a morte da consciência é, reconhece Elias, uma tendência muito antiga na história da humanidade, porém, mudaram os modos usados para esse encobrimento mudaram. Se antes, as pessoas recorriam com mais paixão e intensidade à ideia da continuidade da vida em outro lugar - fantasia coletiva ainda significativa - atualmente, os avanços científicos que permitem o prolongamento da vida e a possibilidade de institucionalizar os cuidados com os velhos e moribundos, são as formas mais comuns para encobrir o processo de envelhecer e morrer.
             Elias conclui essa obra reafirmando que a morte biológica não é o maior pesadelo. O pior pode ser a dor dos moribundos e a incomensurável a perda sofrida pelos vivos quando morre uma pessoa amada. A grande tarefa que ainda temos pela frente, de acordo com Elias, é enfrentar os terrores que, emocionalmente, alimentamos sobre envelhecer e morrer opondo-lhes a realidade de uma vida biológica que tem fim. Nas palavras do autor: "A morte não tem segredos. Não abre portas. É o fim de uma pessoa. O que sobrevive é o que ela ou ele deram às outras pessoas, o que permanece na memória alheias" (p.77)
            Elias nos leva a refletir sobre os inúmeros terrores que envolvem o fato de envelhecer e morrer ressalvando, no entanto, que o constrangimento social e a áurea de desconforto que frequentemente cerca a esfera da morte em nossos dias é de pouca serventia para uma mudança de valores a atitudes frente à questão. O que poderia ser feito para assegurar às pessoas maneiras fáceis e pacíficas de morrer ainda está por ser descoberto, mas existem alguns meios para se mudar a atitude frente à morte: a amizade e solidariedade dos vivos e o "sentimento dos moribundos de que não causam embaraço aos vivos (p.76)".
             Concluindo, o livro do sociólogo alemão Norbert Elias apresenta-se interessante para o pensamento educacional brasileiro, principalmente, por propor uma ampliação das explicações conhecidas sobre o isolamento dos velhos e dos moribundos nas sociedades urbanas. Em especial, o livro permite que possamos entender que o abandono e isolamento dos idosos em nossa sociedade não podem ser explicados unicamente a partir da ideia de que idoso é improdutivo economicamente. É preciso, então, considerar os aspectos emocionais que interferem no abandono dos velhos e moribundos. Neste sentido, é preciso que compreendamos aquilo que Elias chama de auto-imagem o modo como as pessoas se veem, se percebem - do ser humano que vive nas modernas sociedades industrializadas e urbanas e que não inclui a idéia do envelhecimento e da morte.
             O afastamento dos velhos e moribundos do convívio social é o sinal mais evidente da não-identificação entre os jovens e os que estão envelhecendo e morrendo. Se essa não-identificação é apreendida, pode também ser alterada, o que coloca um papel fundamental para a educação das novas gerações. Atualmente, o pavor da morte e de tudo que lhe é associado é ensinado, muito cedo, às crianças: os pais e professores evitam falar da morte, de pessoas que morrem ou estão morrendo; as crianças, as vezes, são impedidas de verem pessoas mortas e de vivenciarem as emoções provocadas pela morte. A possibilidade de transformar a relação dos jovens com os velhos e moribundos passa, necessariamente, pela superação do ocultamento da morte durante a infância e pela inserção da criança em relações afetuosas e de amizade com as pessoas que se encontram próximas do fim da vida.
Dentro desta pesperctiva, o estatuto do idoso garante no Art. 10. 
É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.
§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos:
- faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - prática de esportes e de diversões;
- participação na vida familiar e comunitária;
VI - participação na vida política, na forma da lei;
VII - faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.






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