Sorria você está sendo manipulado: Análise Sociológica sobre o Significado político da manipulação na grande imprensa.
Significado
político da manipulação na grande imprensa
A MANIPULAÇÃO : Uma
das principais características do jornalismo no Brasil, hoje, praticado pela
maioria da grande Imprensa, é a manipulação da informação.
O principal efeito dessa manipulação é
que os órgãos de imprensa não refletem a realidade. A maior parte do material
que a Imprensa oferece ao público tem algum tipo de relação com a realidade.
Mas essa relação é indireta. É uma referência indireta à realidade, mas que
distorce a realidade. Tudo se passa como se a Imprensa se referisse à realidade
apenas para apresentar outra realidade, irreal, que é a contrafação da
realidade real.
É uma realidade artificial, não-real,
irreal, criada e desenvolvida pela Imprensa e apresentada no lugar da realidade
real. A relação que existe entre a Imprensa e a realidade é parecida com a que
existe entre um espelho deformado e um objeto que ele aparentemente reflete: a
imagem do espelho tem algo a ver com o objeto, mas não só não é o objeto como
também não é a sua imagem: é a imagem de outro objeto que não corresponde ao
objeto real.
Assim, o público — a sociedade — é
cotidiana e sistematicamente colocado diante de uma realidade artificialmente
criada pela Imprensa e que se contradiz, se contrapõe e freqüentemente se
superpõe e domina a realidade real que ele vive e conhece. Como o público é
fragmentado no leitor ou no telespectador individual, ele só percebe a
contradição quando se trata da infinitesimal parcela de realidade da qual ele é
protagonista, testemunha ou agente direto, e que, portanto, conhece. A imensa
parte da realidade ele a capta por meio da imagem artificial e irreal da
realidade criada pela Imprensa; essa é, justamente, a parte da realidade que
ele não percebe diretamente, mas aprende por conhecimento.
Daí que cada leitor tem, para si, uma
imagem da realidade, que na sua quase totalidade, não é real. É diferente e até
antagonicamente oposta à realidade. A maior parte dos indivíduos, portanto,
move-se num mundo que não existe, e que foi artificialmente criado para ele
justamente a fim de que ele se mova nesse mundo irreal.
A manipulação das informações se
transforma, assim, em manipulação da realidade.
É possível distinguir e observar,
portanto, pelo menos 4 padrões de manipulação gerais para toda a Imprensa e
mais um específico para o Telejornalismo, e que a seguir vão delineados.
Padrão
de Ocultação
É o padrão que se refere à ausência e à
presença dos fatos reais na produção da Imprensa. Não se trata, evidentemente,
de fruto do desconhecimento, e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao
contrário, um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da
realidade. Esse é um padrão que opera nos antecedentes, nas preliminares da
busca da informação. Isto é, no "momento" das decisões de
planejamento da edição, da programação ou da matéria particular daquilo que na
Imprensa geralmente se chama de pauta.
A ocultação do real está intimamente
ligada àquilo que freqüentemente se chama de fato jornalístico. A concepção
predominante — mesmo quando não explícita — entre empresários e empregados de
órgãos de comunicação sobre o tema é a de que existem fatos jornalísticos e
fatos não-jornalísticos. E que, portanto, à Imprensa cabe cobrir e expor os
fatos jornalísticos e deixar de lado os não-jornalísticos. Evidentemente, essa
concepção acaba por funcionar, na prática, como uma racionalização a posteriori
do padrão de ocultação, na manipulação do real.
Por isso é que o Padrão de Ocultação é
decisivo e definitivo na manipulação da realidade: tomada a decisão de que um
fato "não é jornalístico", não há a menor chance de que o leitor tome
conhecimento de sua existência, através da Imprensa. O fato real foi eliminado
da realidade, ele não existe. O fato real ausente deixa de ser real para se
transformar em imaginário. E o fato presente na produção jornalística, real ou
ficcional, passa a tomar o lugar do fato real, e a compor, assim, uma realidade
diferente da real, artificial, criada pela imprensa.
Padrão
de Fragmentação
Eliminados os fatos definidos como
não-jornalísticos, o "resto" da realidade é apresentado pela Imprensa
ao leitor não como uma realidade, com suas estruturas e interconexões, sua
dinâmica e seus movimentos e processos próprios, suas causas, suas condições e
suas conseqüências.
O todo real é estilhaçado, despedaçado,
fragmentado em milhões de minúsculos fatos particularizados, na maior parte dos
casos desconectados entre si, despojados de seus vínculos com o geral,
desligados de seus antecedentes e de seus conseqüentes no processo em que
ocorrem, ou reconectados e revinculados de forma arbitrária e que não
corresponde aos vínculos reais, mas a outros ficcionais, e artificialmente
inventados. Esse padrão também se operacionaliza no "momento" do
planejamento da pauta, mas, principalmente no da busca da informação, na elaboração
do texto, das imagens e sons, e no de sua apresentação, na edição.
O
Padrão de Fragmentação implica duas operações básicas: a Seleção de Aspectos,
ou particularidades, do Fato e a Descontextualização.
A Seleção de Aspectos do fato que
é objeto da atenção jornalística obedece a princípios semelhantes aos que
ocorrem no Padrão de Ocultação. Embora tenha sido escolhido como um fato
jornalístico e, portanto, digno de merecer estar na produção jornalística, o
fato é decomposto, atomizado, dividido, em particularidades, ou aspectos do
fato, e a Imprensa seleciona os que apresentará ou não ao público.
Novamente, os critérios para essa
Seleção não residem necessariamente na natureza ou nas características do fato
decomposto, mas sim nas decisões, na linha, no projeto do órgão de imprensa, e
que são transmitidos, impostos ou adotados pelos jornalistas desse órgão.
A Descontextualização é uma
decorrência da Seleção de Aspectos. Isolados como particularidades de um fato,
o dado, a informação, a declaração, perdem todo o seu significado original e
real, para permanecer no limbo, sem significado aparente, ou receber outro
significado, diferente e mesmo antagônico ao significado real original.
A fragmentação da realidade em aspectos
particularizados, a eliminação de uns e a manutenção de outros, e a
descontextualização dos que permanecem, são essenciais, assim, à distorção da
realidade e à criação artificial de uma outra realidade.
Padrão
da Inversão
Fragmentado o fato em aspectos
particulares, todos eles descontextualizados, intervém o Padrão da Inversão,
que opera o reordenamento das partes, a troca de lugares e de importância
dessas partes, a substituição de umas por outras e prossegue, assim, com a
destruição da realidade original e a criação artificial da outra realidade. É
um padrão que opera tanto no planejamento quanto na coleta e transcrição das
informações, mas que tem seu reinado por excelência no momento da preparação e
da apresentação final, ou da edição, de cada matéria ou conjunto de matérias.
Há
várias formas de inversão. Freqüentemente muitas delas são usadas na mesma
matéria; em quase todas as matérias ocorre uma ou outra inversão. As principais
são:
Inversão da relevância dos aspectos: o
secundário é apresentado como o principal e vice-versa; o particular pelo o
geral e vice-versa; o acessório e supérfluo no lugar do importante e decisivo;
o caráter adjetivo pelo substantivo; o pitoresco, o esdrúxulo, o detalhe,
enfim, pelo essencial.
Inversão da forma pelo conteúdo: o
texto passa a ser mais importante que o fato que ele reproduz; a palavra, a
frase, no lugar da informação; o tempo e o espaço da matéria predominando sobre
a clareza da explicação; o visual harmônico sobre a veracidade ou a fidelidade,
o ficcional espetaculoso sobre a realidade.
Inversão da versão pelo fato: não
é o fato em si que passa a importar, mas a versão que dele tem o órgão de
imprensa, seja essa versão originada no próprio órgão de imprensa, seja adotada
ou aceita de alguém - da fonte das declarações e opiniões. O órgão de imprensa
praticamente renuncia a observar e expor os fatos mais triviais do mundo
natural ou social, e prefere, em lugar dessa simples operação, apresentar as
declarações, suas ou alheias sobre esses fatos.
Freqüentemente, sustenta as versões
mesmo quando os fatos as contradizem. Muitas vezes, prefere engendrar versões e
explicações opiniáticas cada vez mais complicadas e nebulosas a render-se à
evidência dos fatos. Tudo se passa como se o órgão de imprensa agisse sob o domínio
de um princípio que dissesse: se o fato não corresponde à minha versão, deve
haver algo errado com o fato.
Um dos extremos desse Padrão de Inversão
é o Frasismo, o abuso da utilização de frases ou de pedaços de frases sobre uma
realidade para substituir a própria realidade. Acoplado às demais formas de
manipulação - ocultação, fragmentação, seleção, descontextualização, várias
inversões, etc.
O frasismo surge, assim, quase como a
manipulação levada aos seus limites: uma frase, um trecho de frase, às vezes
uma expressão ou uma palavra, são apresentadas como a realidade original. O
abuso é tão excessivo que quase todos os grandes órgãos de Imprensa chegam a
criar uma "seção de frases", isto 'é, uma realidade robótica,
extraterrena, pura ficção - embora - e aí a gravidade da manipulação -
parecendo-se ao máximo com a mais pura forma de realidade, porque, afinal,
aquelas palavras foram ditas por aquelas pessoas e fielmente registradas, de
preferência com gravador, e literalmente transcritas.
O outro extremo da inversão do fato pela
versão é o Oficialismo, esta expressão aqui utilizada para indicar a fonte
"oficial" ou "mais oficial" de qualquer segmento da
sociedade, e não apenas as autoridades do Estado ou do Governo. No lugar dos
fato uma versão, sim, mas de preferência, a versão oficial. A melhor versão
oficial é a da autoridade, e a melhor autoridade, a do próprio órgão de
imprensa. À sua falta, a versão oficial da autoridade cujo pensamento é o que
mais corresponda à do órgão de imprensa, quando se trata de apresentar uma
realidade de forma "positiva", isto é, de maneira a que o leitor não
apenas acredite nela mas a aceite e adote. Caso contrário, a versão que mais se
opõe à do órgão de imprensa.
A autoridade pode ser o presidente da
República, o governador do Estado, o reitor da Universidade, o presidente do
Centro Acadêmico, do Sindicato, do partido Político ou de uma Sociedade de
Amigos de Bairro. Ela sempre vale mais do que as versões de autoridades subalternas,
sempre muito mais que a dos personagens que não detêm qualquer forma de
autoridade e, evidentemente, sempre infinitamente mais do que a realidade. Assim,
o oficialismo se transforma em autoritarismo.
Inversão da Opinião pela Informação
O leitor/espectador já não tem mais
diante de si a coisa tal como existe ou acontece, mas sim uma determinada
valorização que o órgão quer que ele tenha de uma coisa que ele desconhece,
porque o seu conhecimento lhe foi oculto, negado e escamoteado pelo órgão.
Hoje, exatamente ao contrário, o fato é
apresentado ao leitor arbitrariamente escolhido dentro da realidade,
fragmentado no seu interior, com seus aspectos correspondentes selecionados e
descontextualizados, reordenados invertidamente quanto à sua relevância, seu
papel e seu significado, e, ainda mais, tendo suas partes reais substituídas
por versões opiniáticas dessa mesma realidade.
Assim, não é dada qualquer oportunidade
que não a de consumir, introjetar e adotar como critério de ação, a opinião que
lhe é autoritariamente imposta, sem que lhe sejam igualmente dados os meios de
distinguir ou verificar a distinção entre informação e opinião.
Esta se introduz sub-repticiamente no
meio da matéria, substitui ou prepondera sobre a informação, e passa a ser não
apenas o eixo principal da matéria, como a sua principal ou única justificativa
de existência enquanto matéria jornalística, enquanto objeto de produção e de
edição, apresentação e veiculação. A informação, quando existe, serve apenas de
mera ilustração exemplificadora da opinião adrede formada e definida - a tese -
e que, esta sim, se quer impor à sociedade.
Padrão da Indução
Essa particular inversão da opinião
sobre a informação pode às vezes assumir caráter tão abusivo e absoluto que
passa a substituir a realidade real até aos olhos do próprio órgão de
informação. Não é incomum perceber que, às vezes os responsáveis pelos órgãos
cometem erros - aí, sim, involuntários - porque passaram a acreditar
integralmente nas matérias do próprio órgão, sem perceber que elas não
correspondem à realidade.
A indução da outra realidade — diferente
e até oposta à realidade real — é o fruto da manipulação do conjunto dos meios
de comunicação, em que cada qual, individualmente, tem a sua parte, e em que,
evidentemente a parte preponderante deve ser responsabilizada aos maiores meios
de comunicação, isto é, aos mais poderosos, aos que têm maior tiragem e
audiência, aos que têm e ocupam maiores espaços, aos que veiculam mais
publicidade. Em outras palavras, aos melhores.
A indução se manifesta pelo
reordenamento ou recontextualização dos fragmentos da realidade, pelo subtexto
- aquilo que é dito sem ser falado - da diagramação e da programação, das
manchetes, notícias e comentários, sons e imagens, pela presença/ausência de
temas, segmentos do real, de grupos da sociedade e de personagens.
Alguns assuntos jamais, ou quase nunca,
são tratados pela Imprensa, enquanto outros aparecem quase todo o dia. Alguns
segmentos sociais são vistos pela Imprensa apenas sob alguns poucos ângulos,
enquanto permanece na obscuridade toda a complexa riqueza de suas vidas e suas
atividades. Alguns personagens jamais aparecem em muitos órgãos de comunicação,
enquanto outros comparecem abusivamente, à saciedade, com uma irritante e
enjoativa freqüência.
Alguns
aspectos são sistematicamente relembrados na composição das matérias sobre
determinados grupos sociais mas igualmente evitados de forma sistemática quando
se trata de outros. Depois de distorcida, retorcida e recriada ficcionalmente,
a realidade é ainda assim dividida pela Imprensa em realidade do campo do Bem e
realidade do campo do Mal, e o leitor/espectador é induzido a acreditar não só
que seja assim, mas que assim será eternamente, sem possibilidade de mudança.
O SIGNIFICADO POLÍTICO DA MANIPULAÇÃO
A conclusão a que se pode chegar, pelo
menos como hipótese de trabalho, é a de que a distorção da realidade pela
manipulação da informação é deliberada, tem um significado e um propósito.
Não é necessário estender-se na
demonstração de que, na sua imensa maioria, os principais órgãos de comunicação
no Brasil de hoje são propriedade da empresa privada. Também não é necessário
demonstrar o grau de controle que as empresas exercem sobre a produção, de onde
é possível concluir que são os proprietários das empresas de comunicação os
principais - embora não os únicos - responsáveis pela deliberada distorção da
realidade pela manipulação das informações.
Uma das explicações para essa questão
procura situar a raiz da resposta no campo econômico. E há duas vertentes para
a explicação economicista do fenômeno. A primeira desloca para a figura do
anunciante a responsabilidade última e maior pelo produto final da comunicação:
segundo essa vertente, é por imposição — direta ou indireta — desse anunciante
(privado ou estatal) que o empresário se vê obrigado a manipular e distorcer.
A segunda vertente centra a explicação
na ambição de lucro do próprio empresário de comunicação: ele distorce e
manipula para agradar seus consumidores, e, assim, vender mais material de
comunicação e assim aumentar seus lucros: a responsabilidade é do próprio
empresário de comunicação, mas a motivação é econômica.
É evidente que os órgãos de comunicação,
e a Indústria Cultural de que fazem parte, estão submetidos à Lógica Econômica
do Capitalismo. Mas o Capitalismo opera também com outra lógica — a lógica
Política, a lógica do Poder — e é aí, provavelmente que vamos encontrar a
explicação da manipulação jornalística.
Assim é sustentável a afirmação — pelos
menos em caráter de hipótese de trabalho — de que os órgãos de comunicação se
transformaram em novos órgãos de poder, em órgãos político-partidários, e é por
isso que eles precisam recriar a realidade onde exercer esse poder, e para
recriar a realidade eles precisam manipular as informações
A manipulação, assim, torna-se uma
necessidade da empresa de comunicação, mas como a empresa não foi criada nem
organizada para exercer diretamente o Poder, ela procura transformar-se em
partido político. Aliás, os grandes e modernos órgãos de comunicação, no
Brasil, parecem-se efetivamente muito com partidos políticos.
Referência: http://novo.fpabramo.org.br/content/significado-politico-da-manipulacao-na-grande-imprensa
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