OS 12 MITOS DO CAPITALISMO
Por: Guilherme Alves Coelho
São
muitos e variados os tipos e meios de manipulação em que a ideologia burguesa
se foi alicerçando ao longo do tempo. Um dos tipos mais importantes são os mitos.
Trata-se de um conjunto de falsas verdades, mera propaganda que, repetidas à
exaustão, acriticamente, ao longo de gerações, se tornam verdades insofismáveis
aos olhos de muitos.
Um
comentário amargo, e frequente após os períodos eleitorais, é o de que “cada
povo tem o governo que merece”. Trata-se de uma crítica errónea, que pode levar
ao conformismo e à inércia e castiga os menos culpados. Não existem maus povos.
Existem povos iletrados, mal informados, enganados, manipulados, iludidos por
máquinas de propaganda que os atemorizam e lhes condicionam o pensamento. Todos
os povos merecem sempre governos melhores.
A
mentira e a manipulação são hoje armas de opressão e destruição maciça, tão
eficazes e importantes como as armas de guerra tradicionais. Em muitas ocasiões
são complementares destas. Tanto servem para ganhar eleições como para invadir
e destruir países insubmissos.
São
muitos e variados os tipos e meios de manipulação em que a ideologia
capitalista se foi alicerçando ao longo do tempo. Um dos tipos mais importantes
são os mitos. Trata-se de um conjunto de falsas verdades, mera propaganda que,
repetidas à exaustão, acriticamente, ao longo de gerações, se tornam verdades
insofismáveis aos olhos de muitos. Foram criadas para apresentar o capitalismo
de forma credível perante as massas e obter o seu apoio ou passividade. Os seus
veículos mais importantes são a informação mediática, a educação escolar, as
tradições familiares, a doutrina das igrejas, etc. (*)
Apresentam-se
neste texto, sucintamente, alguns dos mitos mais comuns da mitologia
capitalista.
• No
capitalismo qualquer pessoa pode enriquecer à custa do seu trabalho.
Pretende-se
fazer crer que o regime capitalista conduz automaticamente qualquer pessoa a
ser rica desde que se esforce muito.
O objectivo
oculto é obter o apoio acrítico dos trabalhadores no sistema e a sua submissão,
na esperança ilusória e culpabilizante em caso de fracasso, de um dia virem a
ser também, patrões de sucesso.
Na
verdade, a probabilidade de sucesso no sistema capitalista para o cidadão comum
é igual à de lhe sair a lotaria. O “sucesso capitalista” é, com raras
excepções, fruto da manipulação e falta de escrúpulos dos que dispõem de mais
poder e influência. As fortunas em geral derivam directamente de formas
fraudulentas de actuação.
Este
mito de que o sucesso é fruto de uma mistura de trabalho afincado, alguma
sorte, uma boa dose de fé e depende apenas da capacidade empreendedora e
competitiva de cada um, é um dos mitos que tem levado mais gente a acreditar no
sistema e a apoiá-lo. Mas também, após as tentativas falhadas, a resignarem-se
pelo aparente falhanço pessoal e a esconderem a sua credulidade na indiferença.
Trata-se dos tão apregoados empreendedorismo e competitividade.
• O
capitalismo gera riqueza e bem-estar para todos
Pretende-se
fazer crer que a fórmula capitalista de acumulação de riqueza por uma minoria
dará lugar, mais tarde ou mais cedo, à redistribuição da mesma.
O
objectivo é permitir que os patrões acumulem indefinidamente sem serem
questionados sobre a forma como o fizeram, nomeadamente sobre a exploração dos
trabalhadores. Ao mesmo tempo mantêm nestes a esperança de mais tarde serem
recompensados pelo seu esforço e dedicação.
Na
verdade, já Marx tinha concluído nos seus estudos que o objectivo final do
capitalismo não é a distribuição da riqueza mas a sua acumulação e
concentração. O agravamento das diferenças entre ricos e pobres nas últimas
décadas, nomeadamente após o neo-liberalismo, provou isso claramente.
Este
mito foi um dos mais difundidos durante a fase de “bem-estar social” pós
guerra, para superar os estados socialistas. Com a queda do émulo soviético, o
capitalismo deixou também cair a máscara e perdeu credibilidade.
•
Estamos todos no mesmo barco.
Pretende-se
fazer crer que não há classes na sociedade, pelo que as responsabilidades pelos
fracassos e crises são igualmente atribuídas a todos e portanto pagas por
todos.
O
objectivo é criar um complexo de culpa junto dos trabalhadores que permita aos
capitalistas arrecadar os lucros enquanto distribui as despesas por todo o
povo.
Na
verdade, o pequeno numero de multimilionários, porque detém o poder, é sempre
auto-beneficiado em relação à imensa maioria do povo, quer em impostos, quer em
tráfico de influências, quer na especulação financeira, quer em off-shores,
quer na corrupção e nepotismo, etc. Esse núcleo, que constitui a classe
dominante, pretende assim escamotear que é o único e exclusivo responsável para
situação de penúria dos povos e que deve pagar por isso.
Este é
um dos mitos mais ideológicos do capitalismo ao negar a existência de classes.
•
Liberdade é igual a capitalismo.
Pretende-se
fazer crer que a verdadeira liberdade só se atinge com o capitalismo, através
da chamada auto-regulação proporcionada pelo mercado.
O
objectivo é tornar o capitalismo uma espécie de religião em que tudo se
organiza em seu redor e assim afastar os povos das grandes decisões
macro-económicas, indiscutíveis. A liberdade de negociar sem peias seria o
máximo da liberdade.
Na
verdade, sabe-se que as estratégias político económicas, muitas delas planeadas
com grande antecipação, são quase sempre tomadas por um pequeno número de
pessoas poderosas, à revelia dos povos e dos poderes instituídos, a quem ditam
as suas orientações. Nessas reuniões, em cimeiras restritas e mesmo secretas,
são definidas as grandes decisões financeiras e económicas conjunturais ou
estratégicas de longo prazo. Todas, ou quase todas essas resoluções, são fruto
de negociações e acordos mais ou menos secretos entre os maiores empresas e
multinacionais mundiais. O mercado é pois manipulado e não auto-regulado. A
liberdade plena no capitalismo existe de facto, mas apenas para os ricos e
poderosos.
Este
mito tem sido utilizado pelos dirigentes capitalistas para justificar, por
exemplo, intervenções em outros países não submissos ao capitalismo,
argumentando não haver neles liberdade, porque há regras.
•
Capitalismo igual a democracia.
Pretende-se
fazer crer que apenas no capitalismo há democracia.
O
objectivo deste mito, que é complementar do anterior, é impedir a discussão de
outros modelos de sociedade, afirmando não haver alternativas a esse modelo e
todos os outros serem ditaduras. Trata-se mais uma vez da apropriação pelo
capitalismo, falseando-lhes o sentido, de conceitos caros aos povos, tais como
liberdade e democracia.
Na
realidade, estando a sociedade dividida em classes, a classe mais rica, embora
seja ultra minoritária, domina sobre todas as outras. Trata-se da negação da
democracia que, por definição, é o governo do povo, logo da maioria. Esta
“democracia” não passa pois de uma ditadura disfarçada. As “reformas
democráticas” não são mais que retrocessos, reacções ao progresso. Daí deriva o
termo reaccionário, o que anda para trás.
Tal
como o anterior este mito também serve de pretexto para criticar e atacar os
regimes de países não capitalistas.
•
Eleições igual a Democracia.
Pretende-se
fazer crer que o acto eleitoral é o sinonimo da democracia e esta se esgota
nele.
O
objectivo é denegrir ou diabolizar e impedir a discussão de outros sistemas
politico-eleitorais em que os dirigentes são estabelecidos por formas diversas
das eleições burguesas, como por exemplo pela idade, experiencia, aceitação
popular, etc.
Na
verdade é no sistema capitalista, que tudo manipula e corrompe, que o voto é
condicionado e as eleições são actos meramente formais. O simples facto da
classe burguesa minoritária vencer sempre as eleições demonstra o seu carácter
não representativo.
O mito
de que, onde há eleições há democracia, é um dos mais enraizados, mesmo em
algumas forças de esquerda.
•
Partidos alternantes igual a alternativos.
Pretende-se
fazer crer que os partidos burgueses que se alternam periodicamente no poder
têm políticas alternativas.
O
objectivo deste mito é perpetuar o sistema dentro dos limites da classe
dominante, alimentando o mito de que a democracia está reduzida ao acto
eleitoral.
Na
verdade este aparente sistema pluri ou bi-partidário é um sistema
mono-partidário. Duas ou mais facções da mesma organização política,
partilhando políticas capitalistas idênticas e complementares, alternam-se no
poder, simulando partidos independentes, com políticas alternativas. O que é
dado escolher aos povos não é o sistema que é sempre o capitalismo, mas apenas
os agentes partidários que estão de turno como seus guardiões e continuadores.
O mito
de que os partidos burgueses têm politicas independentes da classe dominante,
chegando até a ser opostas, é um dos mais propagandeados e importantes para
manter o sistema a funcionar.
• O
eleito representa o povo e por isso pode decidir tudo por ele.
Pretende-se
fazer crer que o político, uma vez eleito, adquire plenos poderes e pode
governar como quiser.
O
objectivo deste mito é iludir o povo com promessas vãs e escamotear as
verdadeiras medidas que serão levadas à prática.
Na
verdade, uma vez no poder, o eleito auto-assume novos poderes. Não cumpre o que
prometeu e, o que é ainda mais grave, põe em prática medidas não enunciadas
antes, muitas vezes em sentido oposto e até inconstitucionais. Frequentemente
são eleitos por minorias de votantes. A meio dos mandatos já atingiram índices
de popularidade mínimos. Nestes casos de ausência ou perda progressiva de
representatividade, o sistema não contempla quaisquer formas constitucionais de
destituição. Esta perda de representatividade é uma das razões que impede as
“democracias” capitalistas de serem verdadeiras democracias, tornando-se
ditaduras disfarçadas.
A
prática sistemática deste processo de falsificação da democracia tornou este
mito um dos mais desacreditados, sendo uma das causas principais da crescente
abstenção eleitoral.
• Não
há alternativas à política capitalista.
Pretende-se
fazer crer que o capitalismo, embora não sendo perfeito, é o único regime
politico/económico possível e portanto o mais adequado.
O
objectivo é impedir que outros sistemas sejam conhecidos e comparados, usando
todos os meios, incluindo a força, para afastar a competição.
Na
realidade existem outros sistemas politico económicos, sendo o mais conhecido o
socialismo cientifico. Mesmo dentro do capitalismo há modalidades que vão desde
o actual neo-liberalismo aos reformistas do “socialismo democrático” ou
social-democrata.
Este
mito faz parte da tentativa de intimidação dos povos de impedir a discussão de
alternativas ao capitalismo, a que se convencionou chamar o pensamento único.
• A
austeridade gera riqueza
Pretende-se
fazer crer que a culpa das crises económicas é originada pelo excesso de
regalias dos trabalhadores. Se estas forem retiradas, o Estado poupa e o país
enriquece.
O
objectivo é fundamentalmente transferir para o sector publico, para o povo em
geral e para os trabalhadores a responsabilidade do pagamento das dividas dos
capitalistas. Fazer o povo aceitar a pilhagem dos seus bens na crença de que
dias melhores virão mais tarde. Destina-se também a facilitar a privatização
dos bens públicos, “emagrecendo” o Estado, logo “poupando”, sem referir que
esses sectores eram os mais rentáveis do Estado, cujos lucros futuros se perdem
desta forma.
Na
verdade, constata-se que estas politicas conduzem, ano após ano, a uma
empobrecimento das receitas do Estado e a uma diminuição das regalias, direitos
e do nível de vida dos povos, que antes estavam assegurados por elas.
• Menos
Estado, melhor Estado.
Pretende-se
fazer crer que o sector privado administra melhor o Estado que o sector
público.
O
objectivo dos capitalistas é, “dourar a pílula” para facilitar a apropriação do
património, das funções e dos bens rentáveis dos estados. É complementar do
anterior.
Na
verdade o que acontece em geral é o contrário: os serviços públicos
privatizados não só se tornam piores, como as tributações e as prestações são
agravadas. O balanço dos resultados dos serviços prestados após passarem a
privados é quase sempre pior que o anterior. Na óptica capitalista a prestação
de serviços públicos não passa de mera oportunidade de negócio. Neste mito é um
dos mais “ideológicos” do capitalismo neoliberal. Nele está subjacente a
filosofia de que quem deve governar são os privados e o Estado apenas dá apoio.
• A
actual crise é passageira e será resolvida para o bem dos povos.
Pretende-se
fazer crer que a actual crise económico-financeira é mais uma crise cíclica
habitual do capitalismo e não uma crise sistémica ou final.
O
objectivo dos capitalistas, com destaque para os financeiros, é continuarem a
pilhagem dos Estados e a exploração dos povos enquanto puderem. Tem servido
ainda para alguns políticos se manterem no poder, alimentando a esperança junto
dos povos de que melhores dias virão se continuarem a votar neles.
Na
verdade, tal como previu Marx, do que se trata é da crise final do sistema
capitalista, com o crescente aumento da contradição entre o carácter social da
produção e o lucro privado até se tornar insolúvel.
Alguns,
entre os quais os “socialistas” e sociais-democratas, que afirmam poder manter
o capitalismo, embora de forma mitigada, afirmam que a crise deriva apenas de
erros dos políticos, da ganância dos banqueiros e especuladores ou da falta de
ideias dos dirigentes ou mecanismos que ainda falta resolver. No entanto,
aquilo a que assistimos é ao agravamento permanente do nível de vida dos povos
sem que esteja à vista qualquer esperança de melhoria. Dentro do sistema
capitalista já nada mais há a esperar de bom.
Nota
final:
O
capitalismo há-de acabar, mas só por si tal decorrerá muito lentamente e com
imensos sacrifícios dos povos. Terá que ser empurrado. Devem ser combatidas as
ilusões, quer daqueles que julgam o capitalismo reformável, quer daqueles que
acham que quanto pior melhor, para o capitalismo cairá de podre, O capitalismo
tudo fará para vender cara a derrota. Por isso quanto mais rápido os povos se
libertarem desse sistema injusto e cruel mais sacrifícios inúteis se poderão
evitar.
Hoje,
mais do que nunca, é necessário criar barreiras ao assalto final da barbárie
capitalista, e inverter a situação, quer apresentando claramente outras
soluções politicas, quer combatendo o obscurantismo pelo esclarecimento, quer
mobilizando e organizando os povos.
(*) Os
mitos criados pelas religiões cristãs têm muito peso no pensamento único
capitalista e são avidamente apropriados por ele para facilitar a aceitação do
sistema pelos mais crédulos. Exemplos: “A pobreza é uma situação passageira da
vida terrena”. “Sempre houve ricos e pobres”. “O rico será castigado no juízo
final”. “Deve-se aguentar o sofrimento sem revolta para mais tarde ser
recompensado.”
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