A imaginação sociológica


Pensar a realidade social contemporânea eximindo a importância da Sociologia é um ledo equívoco. Tornou-se urgente a compreensão pelo homem, dos cenários políticos, econômicos e sociais inseridos, e isso só é possível através de uma reflexão crítica correspondente ao viés filosófico-sociológico. Essa reflexão segundo Charles Wright Mills (1916 - 1962), sociólogo americano, é produto da “Imaginação Sociológica” (1959), o que implica em uma consideração mais abrangente sobre os fatos, um olhar mais profundo e vasto. Os problemas devem ser compreendidos a partir de uma perspectiva capaz de situar simultaneamente a história, a biografia e a estrutura social do individuo. Mills acredita que é necessário um trabalho intelectual a partir de si mesmo para então observar a perspectiva social e problematizá-la.

Mas, em que pesa esse pensar sociológico? A partir do momento em que o individuo põe-se a questionar seu meio, passa a analisá-lo de modo diferente: descobre um mundo em que vivia, mas que por falta de atenção não se permitia enxergar. Faz-se necessário o questionamento da conjuntura do próprio contexto social. O mundo moderno fez do homem um ser individual, egoísta, fechado em suas relações, privado em suas observações. O homem moderno se permite naquilo que lhe permita comodismo. Sua visão está limitada pelo cenário no qual está inserido. Esse congelamento da sua realidade como imutável e absoluta é o maior equívoco de qualquer individuo que queira compreender sua relação com a estrutura social.

Mills (1959) salienta que raramente os indivíduos tem consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da história mundial, e é por meio da imaginação sociológica que os homens esperam hoje, perceber o que está acontecendo com eles, como minúsculos pontos de cruzamento da biografia e da história dentro da sociedade. É válido considerar que essa sobreposição do individual sobre o social (e assim, do privado sobre o público) é o que justamente demonstra a apatia de um povo que não se compromete com o desenvolvimento de sua sociedade. A privação em vista do próprio interesse é sem dúvida, característica de um ser não politizado. “Se aceitarmos a definição grega do termo idiota como um homem totalmente privado, poderemos concluir então que muitos cidadãos de muitas sociedades são realmente idiotas”. (MILLS, p. 52, 1959).

Mills aposta enfaticamente na Sociologia como trajeto para o desenvolvimento da razão na busca pela solução de problemas sociais. O uso da imaginação sociológica que busca ampliar a visão para procurar o que de fato está acontecendo sem a tendência de uma dedução incoerente, sugere também a busca por soluções eficientes. Para compreender as modificações de muitos ambientes pessoais, temos a necessidade de olhar além deles, ter a consciência da ideia da estrutura social e analisá-la com sensibilidade.

Outra crítica do autor é com o uso abusivo de teorias abstratas, o que ele chamará de “Fetichismo Conceitual”. Como diz Mills, é necessário que as pessoas desçam de suas alturas inúteis, ou seja, o imaginar sociológico vai muito além de teorias que são constantemente reproduzidas por indivíduos que não as questionam. Frases decoradas de grandes clássicos devem ser estraçalhadas e compreendidas, e não apenas repetidas. A capacidade de decorar textos não denota conhecimento.

Percebe-se a necessidade de saber aplicar o método sociológico. A Sociologia serve como instrumento para análises críticas e reflexivas. Permite a discussão de questões que abrangem o cenário econômico, político, social, cultural, dispondo de um leque de possibilidades que oferecem ao individuo a concepção de que o mundo vai muito além de suas crenças e verdades individuais, o que constitui de fato a ideia de que os paradigmas assim como são construídos, podem ser desconstruídos. A insistência na consideração pela importância da Sociologia é premissa defendida por aqueles que visam não só o crescimento, mas o desenvolvimento de sua sociedade. É necessário que se ressalte o mérito da Sociologia.

Ao provocar um desejo investigativo, a Sociologia se apresenta com uma postura que possibilita a autonomia racional do individuo. E a partir do momento em que a busca por questionamentos e desdobramentos da realidade passa a ser um hábito desenvolvido não só na própria escola, mas na condição social, o individuo torna-se ser ativo, cidadão, e assim, cônscio de seu papel na estrutura social.

Referências:

© obvious: 
http://obviousmag.org/poeira_de_plutao/2017/imaginacao-sociologica-sociologia-sim.html#ixzz6TUoub68N
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